domingo, 9 de dezembro de 2007

6º Festival Varilux de Cinema Francês

Desde a última sexta-feira (23/11) a Fundação Joaquim Nabuco vinha exibindo filmes franceses, pois estava sendo a sede do 6º Festival Varilux de Cinema Francês. A proposta era mostrar como estava o atual cinema francês, algo que aqui, em Pernambuco, é um tanto difícil de encontrar. Não posso deixar de dizer que fiquei excitadíssimo para ver os sete filmes que iriam passar, por serem todos de, pelo menos, 2005.

Nunca havia ido para a Fundaj e estava um tanto apreensivo quanto ao tipo de público que iria encontrar lá, mas me surpreendi pela quantidade de pessoas educadas (sem gritinhos histéricos, cochichos e/ou celulares tocando o tempo todo), que estavam ali pelo filme e não atrás de um entretenimento banal, fato que credito ao horário da exibição (6h30 e 8h30) e ao conteúdo da Mostra, o Cinema Francês.

O primeiro filme que assisti foi uma comédia romântica, Prête-moi ta Main (A Noiva Perfeita). Sim, uma comédia romântica. Havia perdido o primeiro filme, La tournese de pages (Ao Lado da Pianista), que, infelizmente, não consegui ver em outra seção, e estava um pouco frustrado por ter que esperar até 8h30 para ver uma... comédia romântica! Mas sabe que eu não me decepcionei?

O filme tem uma estrutura bem semelhante aos enlatados americanos, com apresentação, desenvolvimento, um plot e um final mais que manjado. Mas, sem dúvida nenhuma, o que fez desse filme tão agradável foram as piadas. Sabe quando nós assistimos uma coisa, já sabendo tudo o que acontece, só que contada de um jeito diferente? Pronto! Foi bem assim que eu me senti. Em nenhum momento vi alguma passagem outrora vista em outro filme. Criatividade! Esse foi um ponto positivo do filme que, mesmo não arriscando quanto ao roteiro, soube seguir um “modelo” de maneira excelente e inovadora =D Sem citar que a história não lembra, diretamente, nenhuma outra que eu já tenha visto: um cara, por volta de 40 anos e solteiro é submetido ao “tribunal familiar”, das suas 6 irmãs e a mãe viúva, onde coisas como ‘todos terão que fazer xixi sentado’ são votados (e ele, obviamente, perde!). Só a sinopse faz você rir XD Partes impagáveis não faltaram, como as reuniões do G7 ou a seqüência sado-masô, com direito a bunda do ator Alain Chabat. O filme atinge extremamente bem o seu (provável) alvo: fazer rir, mas sem aqueles cacoetes americanos (e por que não brasileiros?) que tanto somos submetidos. A direção é de Eric Lartigau e o elenco ainda conta com Charlotte Gainsbourg.

Domingo, 25/11, fui assistir mais dois filmes e, novamente, perdi o primeiro. Tudo bem, o que eu realmente queria assistir era o La Faute a Fidel (A Culpa é de Fidel).



La Faute a Fidel é ambientado na década de 70, ditadura militar para muitos países latino-americanos, e conta a história de Anna, uma garota de 8 anos filha de pai latino e mãe francesa, mas que vive uma vida bastante confortável (para quem acha que latino em terras francesas TEM que ser copeiro ou jardineiro), cercada de pequenos luxos, como uma grande casa, jardim, empregada, escola particular (algo desnecessário na França), etc. Logo no início da película, o pai da garotinha decide voltar a lutar pelos direitos do seu país e começa o tormento da protagonista, pois ela precisa se adequar ao novo padrão de vida que seus pais decidem impor para ela e o irmão mais novo. O que realmente é interessante no filme é o bombardeio de informações que Anna recebe dos adultos a sua volta: há quem xingue o capitalismo, os que falam mal do socialismo (os ‘barbudões vestidos de vermelho’), os individualistas... A todo o tempo ela quer se enquadrar num desses ‘grupinhos’, que logo são criticados por outras pessoas. No meio de todos esses problemas vemos sua constante tristeza, indignação e vontade de mudança, tanto em relação à situação da família quanto ao seu próprio jeito (escolhas, pensamentos, caráter). Posso comparar isso com o dilema filosófico, que é quando temos que escolher duas coisas que sempre vimos como corretas, mas que passam a ser opostos. É isso o que Anna tem que fazer: escolher uma, entre as milhares de opções, para encarar a vida. LINDO! O trabalho da diretora, Julie Gravas, para extrair as emoções da atriz-mirim Nina Kervel foi tão bem feito, que não consigo imaginar aquela garotinha de outra forma senão uma mimadinha, porém triste, menina que só quer o bem pra si e sua família.
Não me arrependi. Sai da cadeira extasiado.

[Em off: vocês acreditam que, enquanto saía do transe que o filme me impôs, escutei um cara metendo o pau (no sentindo figurado) no filme? Falou que era mal estruturado, a história só melhorava da metade pro final – verdade >.< -, etc, etc, etc? Não concordo com ele, porque esse moço devia estar esperando alguma crítica ao estilo burguês ou às vertentes negativas do socialismo, coisas que foram apenas pinceladas. O que interessa na história é, ao meu ver, como as crianças reagiram a toda aquela confusão Socialismo X Capitalismo, tendo de se acostumar a idéias novas – assim como seus pais, só que de uma forma mais complicada, afinal elas não tinham o estudo dos adultos. Inclusive, quando vi o pôster do filme, pensei que seria um Machuca ou O Ano em que meus pais saíram de férias, mas a abordagem foi totalmente diferente! Isso pode ser até tema de um futuro post =D]

No terceiro dia, a quarta-feira, consegui pegar os dois filmes! O primeiro, e sem dúvida o PIOR de toda a Mostra, foi 5x2 Cinq fois deux (O amor em cinco tempos). A sinopse: o filme conta de trás pra frente a vida de um casal, começa com o divórcio e acaba com o primeiro beijo. Sim, é necessário dizer que é de trás pra frente. O filme não tem nada, além disso! Tudo bem, depois de conversar com Marcela Lins e algumas amigas-porção-única na fila do dia seguinte, vi que esse negócio de ser de trás pra frente mostrou o por quê do amor deles ter acabado: já havia começado mal, sem amor. Mas... e daí? Grande coisa. Há tantos roteiros legais por aí que mereciam o dinheiro que foi investido nesse filme! Tudo nele é desencontrado e o que parece é que quiseram fazer um filme de trás pra frente e só, não se preocuparam com o resto do processo de criação. Mas, enfim, a película começou com os personagens assinando o divórcio e seguiu para uma seqüência de sexo anal (sem pênis e/ou vagina expostos). Os atores, principalmente o cara (Stéphane Freiss), não pareciam a vontade no papel de marido nem-aí-pra-mulher, deixando sua parceira (Valeria Bruni-Tedeschi) com muito espaço para aparecer, e ela sem dúvida não soube utilizá-lo. Vamos colocar assim, para que ninguém pense que a culpa foi da atriz: ela queria ter o mesmo espaço que o Freiss e, então, decidiu não aparecer mais que ele. Então, somos levados a assistir um filme que é jogado de um lado para outro por atores que não sabem o que fazer. Terrível!

"Quando um filme é posto de trás pra frente, PRA MIM, é necessário que haja um fundamento pra isso, onde deveria existir alguma coisa que tivesse "esclarecido" toda aquela relação paradoxal que o casal tinha, que deveria existir no começo da história (que pra gente, é o fim). mas não! fica só nessa enrolação de beijos e gaias... Ah! vai se foder, véi! mto ruim. e essa idéia não foi nova!", Marcela Lins (por MSN).

Resumido?

Foi exatamente isso aí que Marcela disse. Depois da desgraça da coisa acima, fui ver o Dans Paris (Em Paris). A história gira em torno de dois irmãos, um em pleno gozo (literalmente) da adolescência e o outro sofrendo com o fim de seu relacionamento. É um contraponto interessante, tocando em pontos como egoísmo e amor, entre a família e a si próprio. O elenco é foi bem selecionado, com Romain Duris, Louis Garrel e Guy Marchand, devido a química que os três apresentaram. Porém, sinceramente, achei o filme legalzinho, mas não gostei muito do ritmo que ele teve, pois, em alguns momentos, película parecia descompassado. Era como se o editor não soubesse como e quando por as cenas. Posso até estar enganado, afinal todo o meu conhecimento em cinema é puramente amador, mas que tinha algo errado com aquela ordem, tinha! A variação de momentos prazerosos, de alguns personagens, e de extrema tristeza, para outros, acontecia de uma hora para a outra, chegando a deixar o espectador num conflito emotivo, porque uma cena “feliz” era sucedida por uma cena “triste” e assim o filme foi seguindo. Não tínhamos pausa para saborear as dores e felicidades dos personagens até METADE do filme. Isso foi algo bem desconfortável u.u’. Mas, num balanço geral, foi uma hora e meia bem legais. Já na segunda metade, o filme pega o ritmo e consegue prender a atenção da platéia, a edição fica mais organizada e temos tempo para saborear cada minuto.

Passemos para quinta-feira e o – para mim – filme mais aguardado: Naissance des Pieuvres (Lírios D’água). Dêem só uma olhada na sinopse: Num subúrbio de Paris, em pleno verão, três amigas de 15 anos praticam nado sincronizado e, enquanto convivem pelos corredores e vestiários da academia, despertam entre si os primeiros sentimentos de desejo, amor e violência. Pensei logo em E sua Mãe Também, alguma coisa de Almodovar... SERIA ESPETACULAR! O filme tinha tudo para ser o melhor, se não fosse a falta da diretora por confiar o papel da protagonista à Pauline Acquart (a garota no centro da imagem que abriu a postagem). Ela começa e termina o filme com a mesma cara (sem oscilações), mas é bonitinha. Então, não posso dizer se o resto dos problemas do filme foram culpa dela (atriz), que levou o restante do elenco para o buraco, ou da diretora, Céline Sciamma, que não soube levar o filme. Pontuando, um ponto positivo foi a procura por um lurgarzinho em algum grupo, algo comum na adolescência, e o ‘até onde você vai por um cara’. Acho que deu para as meninas pensarem um pouco antes de decidirem dar para aquele cara bonitão do colégio. Ah! Não vou deixar de dizer que adorei os pequenos objetos usados, desde as camisas da protagonista até as correntinhas, lixos, parquinhos... Não sei por que, mas aquilo deu ao filme um aspecto mais intimista e, esteticamente, bonitinho. Como parte ruim, temos as seqüências exageradas de nado sincronizado – que pareceram ter comido espaço de desenvolvimento de outras cenas, a atuação da coadjuvante-infanto-juvenil (estranho dizer isso, sempre penso coadjuvante como um velho(a) XD) Adèle Haenel (a que está à esquerda na foto que abre o post) que, como em 5x2 não sabe o seu lugar, parecendo tentar não aparecer demais, algo que acontece o filme todo.

Então, se a intenção da Mostra era que os espectadores conhecessem o Cinema Francês atual, eu conheci e descobrir que ele pode ser resumido em três pontos: cigarros, gente pelada e individualismo. Esse terceiro é a GRANDE surpresa, pois não houve uma seção que não mostrasse uma pessoa querendo/tentando resolver algum problema relacionado ao seu eu, como enfrentar a família, descobrindo sua sexualidade ou num conflito ideológico. Pra mim, a principal impressão de cinema francês que ficou é que ele está preocupado em pensar nas pessoas, relações humanas. Quem sabe isso seja culpa do famoso comportamento frio que eles têm? Mas eles realmente possuem esse jeito ou é uma imagem estereotipada que temos deles? Enfim, nunca conheci um francês de forma mais íntima, mas acredito que possa ser um pouco das duas coisas.

Allors, acho que foi isso =D Infelizmente não deu para eu fazer uma crítica aprofundada sobre cada filme, mas consegui passar minhas principais impressões sobre cada o Festival.

E esta foi a minha estréia aqui no blog.

11 comentários:

Anônimo disse...

caara,
ainda nem li o q ele escreveu,
mas até q enfim, neah, amore?

ahsuahshahsoas
vou ler, vou ler... =P

marcela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
diogo luna disse...

vinícius! bom, bom... li tudo. depois te escrevo algo, ça va?

DER KOSMONAUT disse...

li tudo!
UFA!

engraçado como como a relação fórmula e ferramenta da estrutura do roteiro são inconstantes

veja, um filme feito Prête-moi ta main que você falou que era previsível, pra você foi muito mais interessante que um filme que subverte essa estrutura, como cinq fois deux...

pena que perdi o festival, culpa do teatro ;~~
mas ano que vem tou lá

p.s.: FINALMENTE, vc postou ne?

vinicius gouveia disse...

marcela, você é uma infeliz. mas, muito obrigado por ter colaborado com o post ^^

diogo, me escreva mesmo. vc assistiu bons filmes. quero saber se eu fui o único que tive essa imprenssão.

txai, pois é, rapaz. mas, lembrando, o cinq fois deux 'subverteu' a fórmula[há modelos de 'roteiros' ou regras para a indústria cinematográfica? isso é outra discussão XD], mas ele não tinha razão suficientemente boa para contá-la de trás pra frente, fazendo com que isso trouxesse ônus para o filme! já prête-moi ta main usou a 'estrutura' mais usual, porém de uma maneira bem criativa. pelo menos essa foi a impressão que eu tive, afinal não conheço muitas comédias românticas francesas ^^'

DiH disse...

Parabéééns Pela Estréia, Vini =B~

Adorei o texto e concordo com você, o cinema francês, infelizmente, não é reconhecido aqui no Brasil. Uma pena.

Mesmo sabendo que será bem dificil encontrar os filmes, anotei os nomes na minha lista de próximos filmes à locar.

Anônimo disse...

FINALMENTE um pot teu, e não podia ter assunto melhor do que essa amostra francesa.

bem, sobre o prête-moi ta main, eu tenho que concordar contigo que apesar de ser um filme com um final já certo (e pode-se dizer, um pouco como os enlatados americanos), foi MUITO criativo e uma ótima comédia;

sobre la faute a fidel, nada tenho a declarar porque perdi :~
mas eu DISCORDO COMPLETAMENTE com o que tu dissesse sobre Pauline Acquart, a menina de 'naissance des pieuvres', porque era justamente esse o papel dela, ficarcom as mesma cara o filme todo, ela foi feita para que a pessoa que está assistindo tente adivinhar suas emoções, e vou te dizer, a menina é muito boa atriz! além disso, as partes do nado sicronizado foram essenciais (eu não achei que foram exagerads), porque senão, quem iria entender realmente o porque do nome do filme (naissance des pieuvres, traduzido LITERALMENTE significa nascimento de polvos).

e sobre 5x2, eu também concordo que foi horrível, nõ só os atores e o roteiro em si, mas a filmagem, PÉSSIMA, sabe a parte que o ator principal e a ex-namorada dele (na útliam cena do filme) estão discutindo? pronto, nessa parte, o microfone fica aparecend no alto da tela. HORRÍVEL.

pra finalizar, parabéns pela crítica e FAÇA MAIS POSTAGENS! :)

vinicius gouveia disse...

melow tu é uma coisa adorável.

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkk
tira o q eu escrevi, podre, podre, to com vergonha

Anônimo disse...

Mexe a cadeira...
Vini tu és hilário, escrever uma crítica tão hirônica assim foi hilário.

nãoseileianaminhacamisa. disse...

a culpa é do fidel é muito fuderoso.