domingo, 30 de setembro de 2007

TROPA DE ELITE



É claro que eu não vi o filme no Festival do Rio, num país em que até o presidente já viu filme pirata (o magnífico, estonteante e cheio de canções maravilhosas - Dois Filhos de Francisco) e que todo camelô já tem o filme vendendo em boa qualidade de áudio e vídeo, eu assisti o filme na instituição federal em que estudo (sim, com uma professora na sala).

Tropa de Elite superou minhas expectativas de que fosse um filmezinho sensacionalista e wanna-have-an-oscar (acabei de inventar isso). Mas também não é pra menos, um filme que antecipa sua estréia pra tentar concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (sic)... Mas para a felicidade geral da nação, Tropa de Elite é um filme excelente. O filme tenta a todo custo nos convencer de suas imagens são a realidade nua e crua e acaba conseguindo. São poucas as cenas em que um observador de olhar mais apurado identificará o uso de um tripé na câmera. A câmera treme o tempo todo e a edição não utilizou muito do recurso de cortes, além de não haver claras preocupações em ter imagens com boa fotografia (o que não significa que o filme seja feio esteticamente). É como se o filme todo fosse um documentário de jornalismo investigativo, talvez um resquício da própria idéia original do filme - a de fazer um documentário sobre o Ônibus 174.

Wagner Moura rouba todas as cenas, deixando pouco espaço para as atuações passáveis de André Ramiro (cara nova). Recheado de diálogos construtivos ("Quantos meninos a gente tem que perder pro tráfico pra um riquinho como você fumar um baseado?"), no final do filme a sensação é de ter recebido uma tijolada na cara ao mesmo tempo que dá empolgação pelos heróis. Os heróis nacionais ou a Mega Liga Extraordinária do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) são em meio a um tema em que a população se sente tão impotente a figura de um herói absoluto (ninguém consegue ser melhor que o BOPE - "um guerreiro do BOPE não entra na favela pra morrer, entra pra matar"). Tropa de Elite é o primeiro filme de guerra brasileiro ("mata, esfola, usando sempre o seu... FUZIL! o BOPE tem guerreiros que acreditam no BRASIL!"), sem medo de ter soltado uma frase de efeito. É por isso que o filme tá fazendo tanto sucesso entre os jovens, no final das contas, a imagem dos heróis e vilões de Tropa de Elite habita o mesmo lugar comum que a dos heróis e vilões de qualquer filme de guerra americano. É até bom que o filme tenha se propagado dessa forma e que todo mundo teja vendo, apesar de que financeiramente falando o filme provavelmente não vai ser muito rentável, o objetivo do filme (Tropa de Elite poder ser enquadrado como um filme que usa o cinema como aparelho ideológico) está sendo cumprido.

5 comentários:

nãoseileianaminhacamisa. disse...

sou lóki pra ver esse filme!

DiH disse...

Para ser realista, não espero muito desse filme não. E antes que vocês me crussifiquem por achar que eu estou falando isso apenas por esse brasileiro (veja bem, isso quer dizer que em partes, sim, eu estou falando que já trás uma 'energia' ruim por trazer o símbolo nacional estampado), simplesmente não acho a história boa e dúvido que saia dos padrões horríveis de 'A cidade de Deus'. Enfim, é isso.

Yvonne Carvalho disse...

Engraçado isso que Txai falou, do filme tentar nos convencer que suas imagens são a realidade. Todo filme é uma representação... Acho que o que ocorre com "tropa de elite" é que tem grandes chances de se aproximar mesmo da realidade. Mas, lógico, com toda a parcialidade de uma representação. Por isso mesmo, percebam que o bope é endeuzado (como se fosse a salvação do Rio, do país todo, quem sabe. Como se estivesse imune às corrupções e outras mazelas).
Ainda assim vale ser visto. E muito.
E, poxa, sem preconceitos... batalhamos muito para conquistar espaço na mídia e conseguir qualidade técnica e orçamentos dignos para se fazer um filme legal. De resto, é como Gael falou e Txai confirmou: cinema é cinema. Pouco importa onde é feito, importa se é bom ou ruim (e isso não tem relação com o lugar da produção).
Enfim...filmes bons devem ser vistos. E "tropa de elite" (baseado num livro quase homônimo) é um deles.

Mano Ferreira disse...

Eu gostei do filme. Uma das alterações da versão final, que só está disponível nos cinemas, é a edição de fotografia. Provavelmente, está mais bem produzido nele. Me agrada o costume brasileiro de cortar pouco as cenas e fazê-las corridas, sob a mesma perspectiva da câmera. (estou desprezando os filme-novelas da globo...)
O filme não foi baseado no livro, nem foi concebido inicialmente como documentário do onibus 174. Este documentário realmente existe - eu também gostei. A idéia do filme surgiu no momento da execução do 174. No documentário, fala-se sobre Sandro, o sequestrador do ônibus já dito, que no fim das contas é morto por um policial do bope. Aí, ele quis fazer outro documentário, desta vez sobre o bope - que virou filme.
O roteiro do filme deu origem ao livro - não o contrário. Pode soar engraçado, mas os próprios autores que assim disseram, em entrevista ao programa Marilia Gabriela Entrevista.
Não acho que haja heroização dos policiais. Acho que eles mudam o foco narrativo tradicional. Um heroi não chega em casa gritando com a mulher. Nem acha que fins justifiquem meios (aí, ele seria comunista =p).
Abraço.

Mano Ferreira disse...

só pra finalizar:
^^O tempo todo é colocada a visão dos policiais, que, como o próprio filme mostra, sofrem uma completa lavagem cerebral. O mundo é diferente pra eles. Nós não passamos por essa lavagem. Conseguimos distinguir heroismo de tortura e desespero. Gosto de tapas na classe média.