sábado, 20 de outubro de 2007

Marie Antoinette: quando a estética substitui o roteiro


Já faz um tempo que eu queria escrever algo sobre esse filme até certo ponto polêmico, mas o excesso do que fazer meio que vem me impedindo. Hoje, finalmente, eu resolvi separar uns minutos para falar sobre uma produção que, apesar dos pesares, veio com um quê de renovação cinematográfica.

Quem já não ouviu falar, mesmo que superficialmente, da rainha francesa Maria Antonieta, (tradução de seu nome para o português), esposa de Luis XIV, o “Rei Sol”? Pois é, as famosas figuras historicamente responsabilizadas por boa parte da bancarrota francesa pré-revolução são as mesmas (ou quase!) retratadas na recente produção homônima de Sophia Coppola. Um filme que aparentemente não envolve muitas novidades no mundo do cinema, acabou provando, para o bem ou para o mal, o contrário.



Em 2000, Sophia Coppola foi apresentada à versão de Antonia Fraser da vida de Marie Antoinette. Encantada pela suposta “humanização” dos polêmicos personagens franceses (à exceção de Marie, austríaca) que a autora se preocupou em fazer, Coppola correu para conseguir os direitos de adaptação. Uma outra versão da história, mais freqüentemente defendida pelos historiadores em geral, de Stefan Zweig, por ser “rigorosa demais” não constou no hall de leituras sobre o tema da jovem diretora. E talvez nesse pequeno fato resida a minha, e também de muitas outras pessoas que assistiram o filme, maior crítica.


Quem assiste ao filme e já conhece alguma coisa da história de Marie e Louis sente, quase que de cara, um choque: no filme eles são tão... tão... tão mocinhos! A imagem dos maiores esbanjadores e irresponsáveis da nação passa longe, agarradinha com a versão de Stefan Zweig, e, também como esta, é deixada de fora do filme.
Marie, e seus conflitozinhos corte-moderna, são o foco do começo do filme. Entre uma lágrima e uma festinha regada aos melhores doces e álcool da corte, ela tenta despertar o interesse de seu marido sobre si, e, quase sempre acaba frustrada, recebendo conselhos vindos de casa para engravidar logo. Enquanto isso, (estando o roteiro cada vez mais degenerado aos olhos do telespectador), para os mais liberais, a estética começa a se apresentar como verdadeira salvação.

A exuberância do figurino e dos cenários é reforçada por elementos bem escolhidos como os doces com os quais Marie se empanturra o filme inteiro, por exemplo, e, claro, a ousada trilha sonora que congrega ícones indie e pré-indie, por assim dizer, como New Order e The Cure, e, mais tarde, The Strokes. Trata-se de uma literalmente moderna personagem indie rock.
Aos mais conservadores é pedida licença poética. A estética envolve uma releitura da própria rainha, tentando mostrar uma Marie Antoinette “mais” Marie Antoinette. Mas, apesar de gostar bastante desse inovador toque indie no filme e na personagem em si, não deixo de lembrar o pecado da não-veracidade histórica.

No resto do filme, que muda um pouco de foco, o que é até mesmo evidenciado pelo tipo de câmera e enquadramento usados, a diretora se preocupa em mostrar o que ela supõe ter sido o íntimo da rainha. E talvez seja nessa parte que ocorram algumas das cenas que considero mais bonitas, mas que não vou descrever aqui para não ir caindo na banalidade de contar o filme.

No final das contas é um filme estético por natureza - afinal, quem, em sã consciência, iria mostrar, numa produção historicamente leal, um par de tênis Converse num contexto moderno?! Isso sem contar com as outras inúmeras gafes históricas cometidas por Coppola e sua equipe...

Agora, olhando para o que já escrevi, percebo que acabei dando uma ênfase não pretendida aos defeitos do filme. Mas vou deixar como está. Acabo trocando uma coisa pela outra e deixando como recomendação que os que apreciam filmes mais desapegados ao roteiro e apoiados na própria estética não deixem de assistir Marie Antoinette. Afinal não é todo dia que vemos uma personagem moderna retratada com tênis Converse e trilha sonora por Strokes!

5 comentários:

nãoseileianaminhacamisa. disse...

Talvez o fato do tênis e da trilha seja com a intenção verdadeira de modernisar os personagens da corte francesa.
Não vi o filme ainda e é primeira vez que leio uma crítica sobre ele (na verdade, nem procurei muito por esse filme)e posso dizer que sou meio extremista em filmes com contexto histórico, gosto de ver a verdade neles, mas quem sabe não tenha algo de bom no filme? Vou locar de qualquer forma :)
Sobre a humanização de certos personagens históricos, acho uma perda de tempo. já que na maioria das vezes fica algoi tão exagerado que só os leigos acham que eles eram bonzinhos e sofridos. Isso acontece também no filme "A Queda", que deixa Hitler com jeito de cirnaça injustiçada. Absudo.

DER KOSMONAUT disse...

toda vez que ia na locadora ficava em d�vida em locar ele e a rainha
acabei locando a rainha
n�o gostei, por sinal

agora meu desejo de ver o filme aumentou mais ainda
n�o vi o filme ainda mas j� acho de antem�o que n�o vou crucific�-lo por ter posto maria antonieta com um all star. ao que me parece, foi usado de uma alegoria moderna pra mostrar que maria antonieta tinha um ar de adolescente, mesmo numa �poca em que adolescentes "n�o existiam"

n�o sei, � uma conclus�o precipitada
depois que eu ver eu comento aqui

vinicius gouveia disse...

é. acho que vou gostar dessa antoinette. francês, a dunst, estética pela estética, despretencioso. acho bom você ter dito a verdade, fernanda. porque se não, irá acabar com meus sonhos.

deixa eu ir ali e daqui a pouco comento sobre ele.

Unknown disse...

� um bom filme do ponto de vista est�tico, como eu j� deixei bem claro, mas n�o vou continuar condenando-o historicamente, afinal acho que vale muito a pena ver um filme mesmo q seja s� pela est�tica, mesmo.

uma vez eu assisti um filme de godard cujo roteiro n era l� essas coisas, mas tinha cenas esteticamente interessantes. claro q n me acho no direito (nem na loucura) de comparar coppola a godard, mas fica a dica

[por sinal o filme era Band a part]

Anônimo disse...

além do filme, o livro é também uma ótima (e interessante) opção pra quem realmente quer saber sobre a vida da esposa de Luís XVI. ainda não vi o filme porque não terminei o livro, mas por essa crítica e principalmente pela atriz & trilha sonora comentada, eu já não vejo a hora de acabar as últimas páginas e ir gastar quatro reais e cinquenta na locadora :)